domingo, março 28, 2010

Quando te vi dançar, criança
Tudo era instante
Pra vida faltava tempo
Pro tempo faltava ritmo
E o mundo seguia morrendo
Nesse sonho delirante

sábado, março 06, 2010

Assim que passa
A oportunidade pirraça
Sorrindo me diz
Lá vai o vagão
Se foi por um triz.

segunda-feira, março 01, 2010

Minha casa não tem festa
Não tem luzes na janela
Na minha casa não se dança
Não se reza, não se canta

Na minha casa ninguém repousa
E ninguém trabalha também
Na minha casa tem poeira
Tem miséria e solidão
Tristeza, porém, não tem

Não tem tristeza nem dissabor
Nem desassossego ou militância
Indigna é a minha casa
da vizinhança do amor

Na minha casa eu não choro
Não lamento, não ensaio
Sequer suspiro ou espasmo
Na minha casa tem

Tem sim um abandono
Tem cochicho, tem muxoxo
Tem o sono leve da esperança
Que exita, mas não levanta
Pois nessa casa não há amanhecer.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

E naquela noite, amor
Que o presente era saudades
O passado era desejo
E o futuro uma dor imensa

terça-feira, fevereiro 02, 2010

É tanta gente se afogando nesse mar tão pequenino.


quinta-feira, janeiro 21, 2010

A vida lá fora, pulsando.
E a gente aqui, amor
Esperando um Sol só nosso

segunda-feira, novembro 23, 2009

A semelhança das ausências e das saudades todas eu explico:

É de mim mesmo, é claro.

sábado, novembro 21, 2009

A fúria de arder e aí acordar, sentar pra comer, tomar um café, pensar em você.

E escutar no rádio a previsão do tempo:

Chuva não vem.

segunda-feira, novembro 16, 2009

A palavra sim. Essa tem momento. O tempo da palavra certa não volta jamais.

quarta-feira, novembro 11, 2009

"A glória noturna de ser grande não sendo nada!"

Os últimos meses da minha vida foram os mais diferentes pelos quais já passei. As dimensões das minhas atitudes ultrapassando em larga escala uma série de barreiras emocionais que sempre procurei respeitar e obedecer deram azo à consequências das mais diversas.

Fui ofendido em larga escala por conta de querer investigar um pouco mais de mim mesmo nos outros.

Fui chamado de idiota, bandido (!) e uma série de adjetivos que não julgava ser possível que se aplicassem a minha pessoa.

Algumas delas definitivamente da boca pra fora.

Outras não.

Eu ainda acho que não faço jus a essas ofensas, muito embora tenham sido proferidas com tanta convicção em alguns casos que passei a questionar-me.

Por isso estou me retirando temporariamente do experimentalismo.

Afinal o que posso fazer comigo sem consequências a ninguém faço há muito tempo e está restrito ao campo da imaginação.

Só posso de todo modo me entregar ao clichê mais banal e dizer:

Faria tudo novamente, até por que os frutos colhidos ultrapassam em muito os obstáculos.

Fui premiado com algumas amizades e experiências incríveis.

De todo modo os ESPINHOS estão aqui FINCADOS e eu não os retiro.

Apenas os contemplo, querendo saber como e por qual razão vieram.

sábado, novembro 07, 2009

Acordou mas não se deu conta. Não tão rápido. Era quase madrugada e o avião balançava levemente, fazendo gracejo, imitando um navio. Piscou os olhos e acostumou-se com a pouca luz. Finalmente virou pro lado ainda bocejando e viu uma moça que também acordava. Ela olhou que ele olhava. Sorriu. Ele também. O avião faria parada em Curitiba e seguiria para Foz do Iguaçú. Ele desceria em Curitiba. Ela em Foz. Eles ficaram se olhando alguns segundos. Alguma coisa tinha acontecido e eles estavam se investigando. Procurando saber o quê era. Então a primeira chacoalhada. E a segunda. O aviso de apertar os cintos acendeu simultaneamente com a queda das máscaras. Os bagageiros abriram, malas e roupas e livros espalharam-se rapidamente por sobre as pessoas. Ele estava aflito mas conseguiu alcançar a máscara, puxou a primeira golfada amarga de oxigênio e olhou para o lado. Ela havia batido a cabeça e estava inconsciente. Ele alçou-lhe a máscara como pôde e sentiu-a respirar. Olhou em volta, a maioria das pessoas espremia os olhos. Provavelmente estavam rezando. Ele era ateu. Não tinha Deus algum com quem se comunicar. Havia uma mulher ao seu lado e ela estava inconsciente. "Esse avião vai cair, essa bosta desse avião vai cair". Começou a lacrimejar. A mulher não acordara. Ele a observou por alguns poucos segundos desejando fervorosamente que ela acordasse. Que ela encontrase o seu olhar. Aquele avião iria cair. Aquela mulher que não acordava. Então subitamente ele tirou a própria máscara e a dela. E a beijou. Beijou-a o tempo que conseguiu e quando abriu os olhos ela estava acordada. Ela sorriu. Ele também. O avião não pousou em Curitiba. Nem em Foz do Iguaçú.

segunda-feira, outubro 19, 2009

Um grande amigo meu usa muito a frase "o ciclo do nada nos perpassa e deixa-nos crivados de vazio".

Pois bem, o meu "ciclo do nada" passou, crivou-me de um vazio o qual eu lentamente preenchi.

E enquanto ele restar preenchido, faltar-me-ão linhas para preencher o vazio que agora foi transferido pra cá.

Já me convenci de que essa balança é imutável.

Até o próximo ciclo, então.

terça-feira, setembro 15, 2009

Certo que vago
Um cego no trilho
Um rumo e dois lados
Escuto no espaço
O mesmo estribilho
O mesmo estribilho
O mesmo estribilho.

quarta-feira, agosto 26, 2009

Mude o sol, mude a poltrona.

Feche um olho ou outro.

A mesma porta vai dar sempre na mesma sala.

terça-feira, agosto 25, 2009

Ainda que eu faça pouco, ainda que eu faça nada, haverá sempre menos a fazer, nessa vida de mim privada.

quinta-feira, agosto 20, 2009

Essa minha nova mania de escrever mal merece ser reprimida.

Não que eu escrevesse BEM antes.

Mas enfim, está tudo PIOR.

Me ajudem a parar, obrigado.

quarta-feira, agosto 19, 2009

em 1996 eu acho. algo assim. havia um grupo de meninas em guaratuba. dessas meninas uma delas era especialmente bonita. ela era apaixonada pelo filho da minha madrasta. um dia nós fomos a uma feirinha e ela me pediu pra roubar um laço pra ela. eu roubei. um laço. de noite ela vestiu esse laço e beijou o filho da minha madrasta.
em 1994 ou 1993 ou 1995, algum desses anos. eu creio que foi em 1995. eu dei meu primeiro beijo. na verdade eu tive dois primeiros beijos. por que eu sei que beijei duas meninas nessa época e não lembro qual das duas foi primeiro. então eu considero que as duas tiveram essa honra. eu acho que participar da primeira experiência de algo importante na vida de qualquer pessoa sempre é uma tremenda honra. nas duas hipóteses eu não queria nada. as meninas sim. ó céus, um belo garoto loiro que não estava nem aí pra garotas. eu gostava de videogames.

em 2001 ou 2002 ou 2000. eu me apaixonei pela primeira vez. era uma japonesa de uniforme preto que namorava um surfista pra lá de estranho. certa vez nós viajamos pra paranaguá e conversamos sobre sexo. ela entendia mais do assunto do que eu. mas jamais ela soube disso, eu não permitiria. eu sempre fui um craque em mentir. essa habilidade não tem preço. mas com as mulheres eu nunca tive lá muito tato não. a japonesa sabe disso. ela ouviu meus sentimentos por duas ou três vezes, não se impressionou em nenhuma.
já não era sem tempo, uma decepção ia acabar acontecendo. estive bastante acostumado a criar expectativas e conquistá-las facilmente. normalmente ultrapassando-as em larga conta. mas enfim, eu sou um moleque de dez anos. que espécie de expectativas tem um moleque de dez anos? FÁCIL. as expectativas dos outros. as expectativas dos outros sobre você. principalmente a família claro. uma família essencialmente fracassada financeiramente em nome de ideais. você é um talão de cheques. não. você é uma conta bancária com lastro infinito e você está no nome do seu pai. na verdade isso tudo se deu por conta de um trabalho de artes. eu tinha dez anos de idade e eu era um aluno excelente. um dos melhores alunos num dos melhores colégios. coisa fina. aí um dia eu tirei uma nota péssima em artes. uma mancha vermelha no meio da nobreza azul do meu boletim. vocês acreditam que eu preguei o meu boletim na porta do armário? pra ver a nota lá todo dia? pra me lembrar que eu fracassei numa matéria. em um único bimestre. isso foi em 1994 e eu tinha 10 anos.

quinta-feira, agosto 13, 2009

Saramago

"É um erro entregar ao futuro o encargo de julgar os responsáveis pelo sofrimento das vítimas de agora, porque esse futuro não deixará de fazer também as suas vítimas e igualmente não resistirá à tentação de pospor para um outro futuro ainda mais longínquo o mirífico momento da justiça universal em que muitos de nós fingimos acreditar como a maneira mais fácil, e também a mais hipócrita, de eludir responsabilidades que só a nós nos cabem, a este presente que somos."

Que capacidade absurda desse homem de cutucar as FERIDAS das nossas consciências.

O Caderno de Saramago