Ela entra na casa e sente o vapor abafado, o cheiro de suor e o encontra ali, deitado, imerso na escuridão.
Ela: Onde foi que você esteve?
Ele: Estive aqui, todo esse tempo, pensando.
Ela vai até a janela e abre bruscamente as cortinas, antecipando uma reação que não vem - ele permanece imóvel.
Ele: Estive aqui deitado, recostado nessa revolução, pensando. Todo esse tempo.
Ela: Eu não me lembro de tê-lo visto em condições como essas antes.
Ele: Estou apenas aqui, deitado, reavaliando uma porção de coisas.
Ela: Pois eu não consigo raciocinar deitada na cama, o sangue não corre como deveria e a lógica se perde toda numa imensidão nebulosa.
Ele: Eu não preciso de tantos estímulos como você.
Ela: Bem o vejo. Faz dias que o céu está cinza e não cai sequer uma gota do céu. No povoado um senhor me disse que as nuvens estão preguiçosas. Interessante foi que ele o disse apontando para mim e não para as nuvens. Eu não soube o que lhe responder.
Ele: Devia ter lhe sugerido que as nuvens estão idosas.
Ele se senta na cama abruptamente e busca um copo de água o qual sorve de maneira silenciosa.
Ele: Hoje quando acordei, e vi que você não estava, me percebi capaz de tantas coisas. Então permaneci deitado, brincando de enumerar possibilidades posteriores... se você não voltasse mais.
Ela repete a frase num murmúrio introspectivo
Ela: Se você não voltasse mais...
Ele: Se você não voltasse mais eu me contentaria em permanecer dias inteiros aqui, deitado, recostado nessa revolução. E tudo prestaria apenas para recordar os momentos em que você estava ausente, como hoje. Seriam dias de um respirar aliviado, dias de sossego para o coração.
Ele se desprende do pequeno devaneio e após uma pausa aborrecida, manifesta-se.
Ele: Mas não, o término dessa intromissão está longe de ser anunciado.
Ela: Eu precisava voltar, os armários estão vazios.
Ele: Sim, vazios, como sempre estiveram.
Ela: Esta casa e seus armários vazios. Desde a primeira vez em que saí por aquela porta e resolvi retornar, eu sabia que não poderia mais deixar de...
Ele: Eu soube antes mesmo de você voltar. Você saiu e deixou todas estas janelas e molduras vazias. Estes quadros sem retratos. Eu os preenchi enquanto pude, mas você retornou e eles tornaram a ficar vazios. No decorrer da sua ausência eu os preenchia com toda espécie de gravuras. Na sua ausência, eu os fazia transbordar de você.
Ela: Os armários estão vazios, mas percebo que a sua boca permaneceu infestada de palavras.
A crítica é seguida de longo silêncio interrompido por ela.
Ela: Desculpe, não tive intenção de...
Ele: Não tem importância.
Ela: Sim, mas eu insisto em dizer que...
Ele: Agora já não tem mais importância. (ele suspira longamente e se levanta) Está ouvindo isso? Este novo vizinho passa horas inteiras se dedicando ao violino. Quando pequeno me hipnotizava o som do violino. Para mim era como se pairasse um sorriso no ar quando ouvia alguém tocá-lo.
Ela: Bem me lembro de você ter insistido incessantemente para que eu aprendesse a tocar o bendito violino.
Ele: E você nem mesmo esboçou um interesse em fazê-lo pelo que me recordo.
Ela: Eu nunca entendi por que você mesmo não aprendeu a tocar.
Ele: Você nunca entendeu muitas coisas a meu respeito!
Ela: Você nunca permitiu que eu entendesse! Você nunca permitiu que eu realmente fizesse parte disso tudo ou de coisa alguma que não fosse exatamente aquilo que lhe agradasse, como este estúpido violino! (ela parece entrar num acesso de histeria mas rapidamente se controla).
Ela: Onde foi que você esteve?
Ele: Estive aqui, todo esse tempo, pensando.
Ela vai até a janela e abre bruscamente as cortinas, antecipando uma reação que não vem - ele permanece imóvel.
Ele: Estive aqui deitado, recostado nessa revolução, pensando. Todo esse tempo.
Ela: Eu não me lembro de tê-lo visto em condições como essas antes.
Ele: Estou apenas aqui, deitado, reavaliando uma porção de coisas.
Ela: Pois eu não consigo raciocinar deitada na cama, o sangue não corre como deveria e a lógica se perde toda numa imensidão nebulosa.
Ele: Eu não preciso de tantos estímulos como você.
Ela: Bem o vejo. Faz dias que o céu está cinza e não cai sequer uma gota do céu. No povoado um senhor me disse que as nuvens estão preguiçosas. Interessante foi que ele o disse apontando para mim e não para as nuvens. Eu não soube o que lhe responder.
Ele: Devia ter lhe sugerido que as nuvens estão idosas.
Ele se senta na cama abruptamente e busca um copo de água o qual sorve de maneira silenciosa.
Ele: Hoje quando acordei, e vi que você não estava, me percebi capaz de tantas coisas. Então permaneci deitado, brincando de enumerar possibilidades posteriores... se você não voltasse mais.
Ela repete a frase num murmúrio introspectivo
Ela: Se você não voltasse mais...
Ele: Se você não voltasse mais eu me contentaria em permanecer dias inteiros aqui, deitado, recostado nessa revolução. E tudo prestaria apenas para recordar os momentos em que você estava ausente, como hoje. Seriam dias de um respirar aliviado, dias de sossego para o coração.
Ele se desprende do pequeno devaneio e após uma pausa aborrecida, manifesta-se.
Ele: Mas não, o término dessa intromissão está longe de ser anunciado.
Ela: Eu precisava voltar, os armários estão vazios.
Ele: Sim, vazios, como sempre estiveram.
Ela: Esta casa e seus armários vazios. Desde a primeira vez em que saí por aquela porta e resolvi retornar, eu sabia que não poderia mais deixar de...
Ele: Eu soube antes mesmo de você voltar. Você saiu e deixou todas estas janelas e molduras vazias. Estes quadros sem retratos. Eu os preenchi enquanto pude, mas você retornou e eles tornaram a ficar vazios. No decorrer da sua ausência eu os preenchia com toda espécie de gravuras. Na sua ausência, eu os fazia transbordar de você.
Ela: Os armários estão vazios, mas percebo que a sua boca permaneceu infestada de palavras.
A crítica é seguida de longo silêncio interrompido por ela.
Ela: Desculpe, não tive intenção de...
Ele: Não tem importância.
Ela: Sim, mas eu insisto em dizer que...
Ele: Agora já não tem mais importância. (ele suspira longamente e se levanta) Está ouvindo isso? Este novo vizinho passa horas inteiras se dedicando ao violino. Quando pequeno me hipnotizava o som do violino. Para mim era como se pairasse um sorriso no ar quando ouvia alguém tocá-lo.
Ela: Bem me lembro de você ter insistido incessantemente para que eu aprendesse a tocar o bendito violino.
Ele: E você nem mesmo esboçou um interesse em fazê-lo pelo que me recordo.
Ela: Eu nunca entendi por que você mesmo não aprendeu a tocar.
Ele: Você nunca entendeu muitas coisas a meu respeito!
Ela: Você nunca permitiu que eu entendesse! Você nunca permitiu que eu realmente fizesse parte disso tudo ou de coisa alguma que não fosse exatamente aquilo que lhe agradasse, como este estúpido violino! (ela parece entrar num acesso de histeria mas rapidamente se controla).
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