Era tudo noite e um estrelado que brilhava ainda dentro do galpão fechado. A música e seu volume duelando o entendimento, as luzes e o ritmo de tudo mais corriam pra muito além do que eu via.
Eu estava lá esgoelado, morto, semi-consciente, as pernas sob o comando do coletivo. Ainda teimava pelo corredor do eco craniano um restolho de alcool e umas memórias desimportantes. O conjunto de tudo e o retrato em movimento era um amontoado de sombras embaçadas.
Eu já residia calmo no conformismo de uma noite costumeira quando fui assaltado pelo sorrateiro e surpreendente: o inesperado.
Brotou em meio aos vultos, como que num milagre, um vestido púrpura e o desenho sinuoso que lhe preenchia.
Escorria pela multidão como que se ali não pertencesse, ou, ao contrário, fosse lá a morada do organismo e dos reflexos.
Não sei direito.
Só sei, e era a única coisa que eu me permitiria saber, que eu era obstáculo certo na trajetória dela.
Resfoleguei no quase cômico de mim mesmo e fiz que empinei as pernas. Botei os pés junto dos calcanhares e senti-me respirar.
Era bom.
Ela vinha tranquila, quase vacilava, mas persistia em desobedecer o escorregadio do suor. A gentarada toda amontoada na confusão de ser um só, mas não eu.
Eu estava a salvo.
Por um segundo ela para e olha pro outro lado. "O lado errado" penso eu e meu corpo se esvai no estremecer de ter me enganado. Contudo, antes mesmo do pensar concluir meu raciocínio ela já retorna e segue o meu caminho.
Sinto-me a ponto de deixar a ansiedade abrir meus braços para acolhê-la. Me contenho num relâmpago da consciência, graças a deus a prudência me socorre.
Eu olho.
Ela corresponde.
E continua.
Nisso eu já buscava controlar as inventividades e os planos pro futuro. Paisagens e belas histórias e aquela mulher impossível que insistia em caminhar como se pudesse existir.
O tempo se esgotava e a proximidade era o abismo mínimo e máximo do primeiro diálogo. O crucial da oportunidade e aquele carrossel de palavras na minha boca.
Eu não disse nada.
Não precisei.
Ela tomou o meu ombro suavemente, puxou a orelha de encontro a sua boca e cochichou o murmúrio que ainda visito quando me acomete a nostalgia:
"Com licença"
E se foi.
Emudeci um silêncio quase perpétuo e abri passagem.
Ela escoou pelo resto de qualquer que fosse aquela maldita jornada.
E sumiu no anoitecer de tudo.
Eu estava lá esgoelado, morto, semi-consciente, as pernas sob o comando do coletivo. Ainda teimava pelo corredor do eco craniano um restolho de alcool e umas memórias desimportantes. O conjunto de tudo e o retrato em movimento era um amontoado de sombras embaçadas.
Eu já residia calmo no conformismo de uma noite costumeira quando fui assaltado pelo sorrateiro e surpreendente: o inesperado.
Brotou em meio aos vultos, como que num milagre, um vestido púrpura e o desenho sinuoso que lhe preenchia.
Escorria pela multidão como que se ali não pertencesse, ou, ao contrário, fosse lá a morada do organismo e dos reflexos.
Não sei direito.
Só sei, e era a única coisa que eu me permitiria saber, que eu era obstáculo certo na trajetória dela.
Resfoleguei no quase cômico de mim mesmo e fiz que empinei as pernas. Botei os pés junto dos calcanhares e senti-me respirar.
Era bom.
Ela vinha tranquila, quase vacilava, mas persistia em desobedecer o escorregadio do suor. A gentarada toda amontoada na confusão de ser um só, mas não eu.
Eu estava a salvo.
Por um segundo ela para e olha pro outro lado. "O lado errado" penso eu e meu corpo se esvai no estremecer de ter me enganado. Contudo, antes mesmo do pensar concluir meu raciocínio ela já retorna e segue o meu caminho.
Sinto-me a ponto de deixar a ansiedade abrir meus braços para acolhê-la. Me contenho num relâmpago da consciência, graças a deus a prudência me socorre.
Eu olho.
Ela corresponde.
E continua.
Nisso eu já buscava controlar as inventividades e os planos pro futuro. Paisagens e belas histórias e aquela mulher impossível que insistia em caminhar como se pudesse existir.
O tempo se esgotava e a proximidade era o abismo mínimo e máximo do primeiro diálogo. O crucial da oportunidade e aquele carrossel de palavras na minha boca.
Eu não disse nada.
Não precisei.
Ela tomou o meu ombro suavemente, puxou a orelha de encontro a sua boca e cochichou o murmúrio que ainda visito quando me acomete a nostalgia:
"Com licença"
E se foi.
Emudeci um silêncio quase perpétuo e abri passagem.
Ela escoou pelo resto de qualquer que fosse aquela maldita jornada.
E sumiu no anoitecer de tudo.
2 comentários:
É tão bom ver que a inspiração ainda te rodeia!!!
Nans!
ai se ela tropeçasse...
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