Acordou mas não se deu conta. Não tão rápido. Era quase madrugada e o avião balançava levemente, fazendo gracejo, imitando um navio. Piscou os olhos e acostumou-se com a pouca luz. Finalmente virou pro lado ainda bocejando e viu uma moça que também acordava. Ela olhou que ele olhava. Sorriu. Ele também. O avião faria parada em Curitiba e seguiria para Foz do Iguaçú. Ele desceria em Curitiba. Ela em Foz. Eles ficaram se olhando alguns segundos. Alguma coisa tinha acontecido e eles estavam se investigando. Procurando saber o quê era. Então a primeira chacoalhada. E a segunda. O aviso de apertar os cintos acendeu simultaneamente com a queda das máscaras. Os bagageiros abriram, malas e roupas e livros espalharam-se rapidamente por sobre as pessoas. Ele estava aflito mas conseguiu alcançar a máscara, puxou a primeira golfada amarga de oxigênio e olhou para o lado. Ela havia batido a cabeça e estava inconsciente. Ele alçou-lhe a máscara como pôde e sentiu-a respirar. Olhou em volta, a maioria das pessoas espremia os olhos. Provavelmente estavam rezando. Ele era ateu. Não tinha Deus algum com quem se comunicar. Havia uma mulher ao seu lado e ela estava inconsciente. "Esse avião vai cair, essa bosta desse avião vai cair". Começou a lacrimejar. A mulher não acordara. Ele a observou por alguns poucos segundos desejando fervorosamente que ela acordasse. Que ela encontrase o seu olhar. Aquele avião iria cair. Aquela mulher que não acordava. Então subitamente ele tirou a própria máscara e a dela. E a beijou. Beijou-a o tempo que conseguiu e quando abriu os olhos ela estava acordada. Ela sorriu. Ele também. O avião não pousou em Curitiba. Nem em Foz do Iguaçú.
sábado, novembro 07, 2009
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2 comentários:
Gostei, simplesmente fascinante.
Obrigado! =)
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