sexta-feira, novembro 17, 2006

3 segundos.

Soco.

Lentamente os pensamentos se atraem e se dispersam, tudo bambo, tudo leve.

O chão é apenas um mero resquício daquela neblina fabulosa da minha infância.

E pelos meus calcanhares corre um formigar, um borbulho tênue que me atravessa a garganta e se lança mundo afora num gargalhar alucinado.

A névoa se faz um pouco menos espessa, as formas das coisas começam a ganhar certo volume.

A minha cabeça se desliga do pescoço e procura abrigar-se no embalo do vento.

Os próximos momentos são dotados de uma lucidez inesgotável, como se um domínio sobre tempo e espaço fosse o último presente garantido a mim por alguma divindade que se entretia com o espetáculo.

Ao mesmo tempo me percebo embriagado por um silêncio tão magnifíco que me permite escutar o abafado pestanejar da multidão.

Diviso ao longe alguns traços brancos e vermelhos.

No céu se projetam luzes de todas as cores.

Os meus pés reconhecem a firmeza das pernas e se aventuram na direção do retorno.

Mas a vertigem me assalta, me agarra, me conduz.

Durante poucos segundos eu bailo completamente tonto pelo salão e exibo o sorriso ensanguentado para a platéia que já não fala.

Depois é tudo um misto do que até então se sucedera. E o impacto do chão é projetado para mim como um desfecho cinematográfico.

A tela treme, a música sobe e o mundo escurece.

Mas, misteriosamente.

Não dói.

2 comentários:

Bruno Jugend disse...

Mas eu compreendo seu blog, espanhol safado.

iasa monique disse...

ah, dói sim.